Próprias Palavras

A liberdade está em se ser dono da própria vida. (Platão)

30.7.06

Descartes tinha razão

Em seu “Discurso do Método”, René Descartes diz que “pode-se de fato conceber que uma máquina seja feita de tal forma que profira palavras e até que profira algumas a respeito de ações corporais que provocarão alguma mudança nos seus órgãos; de tal forma que, se for tocada em algum lugar, ela pergunte o que lhe querem dizer, se tocada noutro, ela grite que a estão a magoar e coisas semelhantes; mas não conseguirá organizá-la diversamente para corresponder ao sentido de tudo o quer dito na sua presença, como os homens mais embrutecidos podem fazer”.

Hoje tive um exemplo ótimo do pensamento de Descartes ao assistir dois filmes completamente opostos: Transamérica e Piratas do Caribe 2. até que ponto o dinheiro pode fazer um filme ser melhor que outro?

Primeiro assisti Transamérica, um filme americano independente que conta a história de um transexual que às vésperas de realizar a tão sonhada operação de mudança de sexo descobre que é pai de um adolescente problemático. O filme é um road movie delicioso. Te faz e rir e chorar quase que simultaneamente. Já assistimos muitos filmes que tratam da questão homossexual do ponto de vista de homens, mulheres e drag queens, mas poucos são os filmes que falam do transexual. Para ser honesto, não me recordo de nenhum no momento.

Transamérica consegue tocar nessa temática tão particular falando de uma forma universal. Quando soube do que tratava o filme imaginei que iria encontrar no cinema uma platéia formada por gays, travestis e afins. Que nada! Senhores torciam pela protagonista ao lado de suas companheiras e adolescentes se divertiam com seus grupos de amigos. Sessão lotada. Duas horas sem conseguir sequer piscar. Transamérica é um filmaço. Agora pasmem: sabe quanto custou a produção do filme? A bagatela de U$$ 1 milhão.

Em seguida enfrentei uma fila enorme no Cinemark para assistir Piratas do Caribe 2. O filme é uma febre no mundo inteiro. Já bateu todos os recordes possíveis até o momento. O custo de produção foi de US$ 225 milhões. Pois para mim esses números não surtiram efeito algum. Passei duas horas e meia entediado com uma seqüência de correria, tiros, espadas sem nenhum nexo. O roteiro é completamente furado, sem qualquer tipo de objetivo que não seja enganar o público até o último momento. E o que é pior, ao final do filme existe uma indicativa de que ainda virão Piratas 3, 4, 5...

Conclusão: Piratas do Caribe 2 é 225 vezes mais caro que Transamérica. No entanto, Transamérica é 225 vezes melhor que Piratas do Caribe. Graças à Deus nenhum efeito especial consegue vencer um roteiro bem escrito. O homem ainda é melhor que a máquina.

Nem lá nem cá.

Pra fechar a noite fui ao Paissandu assistir A pequena Jerusalém, um filme que conta a história de uma família judia que mora na França e passa por alguns conflitos. A esposa quer se livrar de algumas barreiras para satisfazer sexualmente seu marido, que a essa altura do campeonato está a traindo; a garota que quer estudar filosofia e passa a questionar sua religião e em seguida se apaixona por um mulçumano argelino. Vários elementos que poderiam render um excelente filme, mas que é mal realizado e deixa desejar. Uma pena.

22.7.06

De Volta Para o Futuro

A primeira dama fala para a recepcionista:
- você sabe que nessas festas sempre tem penetra, né bem! Depois a comida não dá pra todo mundo e ainda vão sair falando mal...

Disfarçadamente a madame pega seu cigarrinho escondido atrás de um copo de Whisky importado se abaixa levemente, pois do contrário o vestido apertadíssimo não permitiria, e dá uma tragada. Ela não quer ser vista fumando.

- É feio uma dama que nem eu fumar, né bem! – fala para a recepcionista, que até aquele momento não havia aberto a boca.

O mais engraçado é que a cara das pessoas quando chegam à festa e cumprimentam a primeira dama é de extrema alegria. Quando elas se afastam e ficam sozinhas com seus pares amarram mudam de expressão. Eu também estava de cara amarrada. Pudera, ninguém quer trabalhar numa sexta-feira a noite e ainda por cima numa festa chatíssima.

Imagino que fazer uma novela de época deve ser a mesma sensação de freqüentar aquele lugar. Todo mundo vestindo roupas que ninguém mais usa, utilizando um vocabulários que não é o mesmo do dia-a-dia e dançando músicas.... bem... vocês já imaginam.

Outro detalhe legal são os fotógrafos. Eles são poucos, mas tiram milhões de fotos. E o mais interessante é que nenhuma será publicada. Será que aqueles quatrocentões realmente acreditam que sairão na Caras ou na Quem?

Avistei a única pessoa diferente no ambiente. Ela é uma senhora de cinqüentaepoucosanos, veste uma bata hippie – mas muito chique – e tem um terceiro olho entre as sobrancelhas. Provavelmente deve ser uma senhora da alta sociedade que foi pra Índia, descobriu a espiritualidade e agora tenta adaptá-la à vida burguesa que o marido (de terno e gravata, lógico) mantém.

A primeira dama sua em bicas. E olha que a festa nem começou. A recepcionista a ampara com um lencinho que a cada passada no rosto sai encharcado. O leque na mão direita faz o braço gordo balançar as pelancas. Até o final da noite ela deverá perder uns dez quilos. E ainda será pouco.

Xi..... a festa tem aquelas equipes de filmagens de quinze anos. Será que os convidados agora pensam que vão aparecer na televisão? Pelo visto, nem no telão, já que a festa não tem telão!

Os garçons parecem treinados para só servirem as pessoas acima de sessenta anos, ou seja, noventa por cento do público. Eu e a senhora espiritualizada que tem um terceiro olho estamos fora.

Fim de noite. Quase duas da madrugada. Volto pra casa. O bar da esquina tá fechando, mas ainda dá tempo de tomar uma cerveja. A morena no balcão reclama que tá cedo, o marido avisa que vai dar uma porrada nela se não for pra casa agora. Os adolescentes fumam um baseado na esquina.

Bem vindo à vida real.

Um giro de 180 graus

Nunca fui fã de saraus. No geral eles não passam de uma reunião de pessoas que acham que tem um monte de coisa interessante pra dizer, feito para pessoas que estão ouvindo só porque também querem falar. Entendeu?

É mais ou menos assim. Eu escrevo uma poesia e tenho a necessidade de divulgá-la. Daí vou a um sarau, escuto sem saco nenhum um monte de gente chata falar as poesias, crônicas e afins que produziram recentemente, enquanto aguardo a minha hora de falar. Me levanto, falo, mato a minha necessidade e todos são obrigados a me escutar, pois estarão na mesma situação que eu no momento seguinte. E assim vai.

Pois bem, estava nesse contexto há exatamente um ano, quando vejo uma jovem, mais ou menos da minha idade, se levantar para divulgar seu trabalho. Talvez por ser jovem ou talvez por nunca ter ido àquele lugar, ela teve o castigo de ser a última a se apresentar.

À essa altura do campeonato eu já estava na décima cochilada e na vigésima mensagem SMS do meu celular.

Calmamente ela pediu para ler um trecho do seu livro. Naquele momento todo meu sono foi embora, fechei o visor do celular e me emocionei. Quando Márcia começou a ler parecia que aquele texto era um resumo do momento que estava vivendo. Sabe quando você abre o minuto de sabedoria e ele fala alguma coisa que só você sabia que estava passando? Pois foi assim que me senti. Cada palavra, cada linha. O trecho escolhido por Márcia tratava de separações, despedidas, mudanças. Falava do Ser Humano e a forma como se relaciona com quem ama.

Os dramas são aqueles do dia a dia de todo mundo. A dificuldade de identificar o que a outra pessoa está pensando. O que ela quer ouvir.

O livro se chama 180 graus e a autora é Márcia do Valle. Um romance gostoso de ser digerido e com algumas reviravoltas. Vale a pena também navegar pelo blog de Márcia (http://www.soltanomundo.blogger.com.br/)

Segue um trecho do livro:

(...) Me perdoa por ter acreditado e feito você acreditar que o nosso amor resistiria a tudo, quando eu mesma sabia o que poderia arruína-lo. Me perdoa por ter sido covarde demais para te dizer “não” e ter adiado esse momento até agora. Talvez por achar que o “agora” não chegaria nunca e por ter tido medo da solidão eterna. Me perdoa por ter acreditado que ficar com você era a melhor alternativa naquele momento e ter achado que conseguiria me satisfazer só com você. E consegui, por um tempo. Me perdoa por continuar achando que ficar com você foi maravilhoso até o momento e não me arrepender. Faria tudo de novo. (...)

12.7.06

Intimidade virtual

Estou tentando criar mais intimidade com o mundo virtual. Hoje baixei um programinha da internet que baixa filmes e músicas. Coisa de última geração, segundo o Thiago, meu amigo, irmão de Aline. No momento tento baixar “Closer”. Não sei porque, mas esse foi o primeiro filme que veio à minha cabeça. Talvez seja porque esteja vivendo um momento “perto demais”... vai saber...

3.7.06

Traumas da Infância I

Domingo, 23h24min. Acaba de tocar o jingle do Domingo Maior. Detesto essa hora. Me lembra de quando era pequeno e nesse momento era obrigado a ir para cama dormir, pois tinha que estudar no dia seguinte.

Viva a independência!

Viva a TV a cabo!

Viva a vida adulta!