De Volta Para o Futuro
A primeira dama fala para a recepcionista:
- você sabe que nessas festas sempre tem penetra, né bem! Depois a comida não dá pra todo mundo e ainda vão sair falando mal...
Disfarçadamente a madame pega seu cigarrinho escondido atrás de um copo de Whisky importado se abaixa levemente, pois do contrário o vestido apertadíssimo não permitiria, e dá uma tragada. Ela não quer ser vista fumando.
- É feio uma dama que nem eu fumar, né bem! – fala para a recepcionista, que até aquele momento não havia aberto a boca.
O mais engraçado é que a cara das pessoas quando chegam à festa e cumprimentam a primeira dama é de extrema alegria. Quando elas se afastam e ficam sozinhas com seus pares amarram mudam de expressão. Eu também estava de cara amarrada. Pudera, ninguém quer trabalhar numa sexta-feira a noite e ainda por cima numa festa chatíssima.
Imagino que fazer uma novela de época deve ser a mesma sensação de freqüentar aquele lugar. Todo mundo vestindo roupas que ninguém mais usa, utilizando um vocabulários que não é o mesmo do dia-a-dia e dançando músicas.... bem... vocês já imaginam.
Outro detalhe legal são os fotógrafos. Eles são poucos, mas tiram milhões de fotos. E o mais interessante é que nenhuma será publicada. Será que aqueles quatrocentões realmente acreditam que sairão na Caras ou na Quem?
Avistei a única pessoa diferente no ambiente. Ela é uma senhora de cinqüentaepoucosanos, veste uma bata hippie – mas muito chique – e tem um terceiro olho entre as sobrancelhas. Provavelmente deve ser uma senhora da alta sociedade que foi pra Índia, descobriu a espiritualidade e agora tenta adaptá-la à vida burguesa que o marido (de terno e gravata, lógico) mantém.
A primeira dama sua em bicas. E olha que a festa nem começou. A recepcionista a ampara com um lencinho que a cada passada no rosto sai encharcado. O leque na mão direita faz o braço gordo balançar as pelancas. Até o final da noite ela deverá perder uns dez quilos. E ainda será pouco.
Xi..... a festa tem aquelas equipes de filmagens de quinze anos. Será que os convidados agora pensam que vão aparecer na televisão? Pelo visto, nem no telão, já que a festa não tem telão!
Os garçons parecem treinados para só servirem as pessoas acima de sessenta anos, ou seja, noventa por cento do público. Eu e a senhora espiritualizada que tem um terceiro olho estamos fora.
Fim de noite. Quase duas da madrugada. Volto pra casa. O bar da esquina tá fechando, mas ainda dá tempo de tomar uma cerveja. A morena no balcão reclama que tá cedo, o marido avisa que vai dar uma porrada nela se não for pra casa agora. Os adolescentes fumam um baseado na esquina.
Bem vindo à vida real.
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