Próprias Palavras

A liberdade está em se ser dono da própria vida. (Platão)

28.9.06

FESTIVAL DO RIO (4ª PARTE)

Parecia tapete vermelho em noite de Oscar. Assim foi a pré-estréia do filme “O Cheiro do Ralo”, protagonizado por Selton Mello. Todas as estrelas da constelação Globo marcaram presença, sem nenhuma baixa. Desde a protagonista de Malhação à estrela da novela das oito. Cléo Pires pegava uma fila imensa para ir ao banheiro enquanto seu namorado aguardava impaciente do lado de fora. Até a diva da axé music deu as caras. Ivete Sangalo chegou ao lado do namorado (??) e causou frisson entre os fotógrafos, que não estavam nem aí se o filme já estava sendo apresentado. Enquanto os produtores, o diretor e os atores subiam no palco para dar uma palavrinha, os flashs estavam todos mirados para Ivete. Mariana Ximenes sorria fazia pose para os paparazzi, Selton Mello dava todas as entrevistas possíveis, Paola Oliveira curtia o sucesso de ser a nova protagonista da próxima novela das seis e cumprimentava o Padre Pedro, ops... ou melhor.. Nicola Siri!!!
Quanto ao filme, bom, poucas pessoas de fato viram o filme. A maioria estava ali na verdade para ser vista. Eu vi e gostei muito do resultado. Parece um pouco com o Quentin Tarantino na época de Cães de aluguel. O filme não tem um roteiro exatamente com uma história de começo, meio e fim. É apenas a história de um homem esquizofrênico, que trabalha numa profissão mais louca ainda e que tem uma sucessão de diálogos e situações non sense. É um filme que não tem que ser levado a sério. Se for entrar nessa onda é melhor não assistir. O melhor é ir para o cinema desarmado e se preparar para assistir algo que foge do real.

26.9.06

FESTIVAL DO RIO (3ª PARTE)

  • Bem que o Festival do Rio podia ter feito uma propaganda melhorzinha! Aquele comercial com tentativa de ser conceitual tá uma porcaria. O que salva é a trilha sonora e o slogan. De resto, tá um lixo.
  • Continuando na onda publicitária, a Secretaria das Culturas poderia também
    investir em propaganda e colocar uma menos antiga do que a que está nos cinemas.
    Aquele escola de samba desafinada e as imagens do Rio no início da década de 90
    tá caidíssimo

FESTIVAL DO RIO (2ª PARTE)

Mais dois filmes nessa noite: Sonhos Com Shangai e 4 Minutos. O primeiro é ingênuo demais e o roteiro não sustenta as duas horas de projeção. Além de não apresentar nada de novo. O outro é muito bom!!! A história de uma pianista alemã que é presa como assassina e dentro da cadeia passa a ter aulas de piano com uma senhora, que de alguma forma tenta inseri-la na sociedade.

25.9.06

FESTIVAL DO RIO (1ª PARTE)

Foi dada a largada para o Festival de Cinema do Rio de janeiro. A maratona começou na sexta-feira e vai até o dia 5 de outubro. Daqui pra frente meus comentários no blog devem girar só em torno desse acontecimento cinematográfico. Já garanti 28 ingressos e até o final do festival ainda tem aqueles filmes que não foram liberados e que chegam em cima da hora. Hoje é apenas o terceiro dia do festival, mas já assisti alguns filmes memoráveis. Acabo de assistir um chamado 15 anos, que é maravilhoso e que acredito, entrará em cartaz nos grandes circuitos. Também assisti um chinês “A Estrada” que foi show de bola. Ele mostra toda a mudança cultural da China desde a década de 1960 através da história de vida de uma mulher que apaixonada por um homem, mas se casa com outro. Uma história tocante. Outro filmes brilhante é Holly, história de crianças prostitutas do Camboja. É muito parecido com o nosso Anjos do Sol. Mas o brasileiro é superior.

Os melhores: 15 Anos; Estrada; Princesas; Holly, De Ninguém

Nem lá nem cá: Wood Stock; Uma coisa toda nova

Bomba: Cessar-fogo (mais um filme Iraniano sem pé nem cabeça!)

21.9.06

E lá vamos nós...

Acabo de ler a notícia que Cinema, Aspirinas e Urubus foi selecionado pelo Ministério da Cultura para representar o Brasil na corrida pelo Oscar de filme estrangeiro em 2007. A decisão foi a mais acertada possível – Cinema, Aspirinas e Urubus é um dos melhores filmes nacionais das últimas décadas – mas me surpreendeu. Burramente, sempre indicamos filmes nacionais blockbuster para nos representar lá fora (com exceção de Cidade de Deus e Central do Brasil) e isso já provou não ser uma opção inteligente. Ano passado indicamos Olga e quebramos a cara. Em 2001 indicamos Carandiru, e nem mesmo os 5 milhões de espectadores empurraram o filme. Já concorremos com O Quatrilho e O Que é Isso Companheiro e foram mais duas bolas fora.
Ainda não faço a menor idéia de quem são nossos concorrentes a filme estrangeiro. Mas de antemão, já afirmo que essa foi a melhor decisão e que se não formos indicados ou não vencermos, pelo menos escolhemos o melhor filmes que poderia representar o Brasil. Cinema, Aspirinas e Urubus é honesto ao que se propões e é um filme autoral que consegue estabelecer um diálogo universal. Ele extrapola qualquer barreira regional. É um filme que se passa no nordeste brasileiro, mas que poderia ser qualquer outro lugar do mundo. Agora é aguardar e ver o resultado no ano que vem.

14.9.06

A Elite da Tropa


A Elite da Tropa

É engraçado – engraçado e triste ao mesmo tempo – que até a linguagem dos bandidos e dos policiais corruptos vai ficando cada vez mais parecida.


- Querem levar o baseado pra relaxar?

Foi com essa frase que o policial se despediu do nosso carro. Ele guardou os 175 reais na carteira, bateu a porta do carro e antes de ir ao encontro de seu colega na viatura encostada a poucos metros, nos deu a última dica:

- Nunca saia com o carro tão cheio. Nós sempre damos batidas em carros com muitos jovens.

Pois é, naquela noite comum de primavera no Rio de Janeiro nós quatro cumpríamos o ritual de milhões de jovens de classe média: bebida + baseado + amigos + policia.

Depois de encher a cara em um botequim da lapa entramos naquela lata velha para despachar os amigos que moravam mais longe. No caminho acendemos um baseado no aterro do Flamengo, ali nenhum policial iria aparecer do nada. Na volta eu e Rogério queríamos queimar mais um antes de ir pra casa, mas vimos que a seda havia acabado. Paramos em uma banca de jornal, desci, e na volta, quando mijava num poste, um rapazola que não aparentava ter mais de 18 anos manjou minha rola. Ri, olhei pra trás, acenei pro Rogério e saí dando uma corridinha até o carro que se encontrava do outro lado da rua. Nos entreolhamos e decidimos oferecer uma carona ao rapaz,que àquela altura estava parado em um ponto de ônibus. Parecia inofensivo, tinha cara de bonzinho e ainda por cima era um gatinho.

Fomos direto pro Arpoador. Preparamos um baseado e depois ainda fumamos um que o garoto trazia no bolso. Logo de cara me preocupei em saber a sua idade.

- 21 – respondeu o menino.

- Menos mal – suspirei.

Rogério estava inquieto, com medo de algum policial nos pegar no flagrante. Mas que nada, o lugar só tinha pescadores, mendigos ou homens fazendo pegação. Pouco tempo depois um catador de lata se aproximou e pediu um trago. Não exitei e estendi o baseado. Ele balbuciou algumas palavras incompreensíveis, só dando pra entender quando ele falou que o lugar era rodeado de policias que vira e mexe davam batida e arrochavam os jovens que iam pra pedra fumar.

Quando percebemos que o papo pesou tratamos de sair de fininho. Não sem antes “dar um dois” e guardar a pedrinha que sobrou no bolso direito da calça enrolado em um daqueles sacos de guardar comida congelada.

Menos de cinco minutos depois de deixar o Arpoador rumo a qualquer outro lugar onde pudéssemos terminar a noite, uma viatura da polícia nos mandou encostar.

Eram dois policiais. Um branco, com os olhos claros, gordinho e com cara de mau. O outro negro, mais magro e uma cara típica de malando carioca. Este último era o bonzinho da dupla.

Não demorou muito e o “bonzinho” encontrou a pedra malocada no meu bolso. Não tive nem como reagir. Parecia que aquela era a primeira vez que alguém me pegava fazendo algo completamente ilegal. O mauzinho se aproxima e faz aquelas perguntas de praxe: já fumou hoje? Qual sua profissão? Já tem passagem pela polícia? Blá, blá, blá!!! Anota meus dados em um talão e me lembra o quão enrolado estou a partir daquele momento.

Rogério se aproxima e com a lábia de um excelente negociador inicia um diálogo com os policiais.

- Será que tem como aliviar? Nós não usamos todos os dias, já estamos voltando pra casa, foi um erro...

- Mas são vocês, pequenos usuários, que alimentam o tráfico. E nós policiais é que tomamos tiro de bandido lá de cima.

- Nós sabemos, nós sabemos. A situação da polícia é realmente difícil e nós estamos errados mesmo. Eu só queria saber se há a possibilidade de fazermos algo para que essa situação se encerre aqui e não tenhamos que ir à delegacia.

- Você ta sugerindo o quê?

- Não to sugerindo nada.

- Pode falar!

- Eu não quis dizer nada. Só queria saber se dá pra ir embora sem maiores complicações.

A discussão continuou com o dia raiando e o policial tentando dar um tom importante e moralizador para todo aquele circo armado. Ele nos forçava a dizer a palavra suborno, não iniciava os lances, mas dava margem para que ela negociação prosseguisse. Naquela altura do campeonato já sabíamos que o lance era dar a grana para a dupla e torcer para que eles não nos obrigassem a parar num desses bancos 24 horas para sacar nosso dinheiro. Tínhamos mais medo da polícia que do próprio bandido.
Depois de alguns minutos de reunião o policial negro bonachão se aproxima e faz o lance final.

- Então junta os 175 reais e essa história acaba por aqui. Vou entrar no banco de trás do carro e vocês me passam a grana. Tem que ser rápido porque o dia já ta nascendo e daqui a pouco todo mundo ta vendo a gente das janelas.

Atônitos e lúcidos após a alta carga de adrenalina injetada no nosso corpo não víamos a hora de despachar aquele carona inconveniente. Passamos o dinheiro e nos despedimos como se estivéssemos falando com um amigo que deixamos na porta de casa.

Ele abre a mão e pergunta:

- Querem levar o baseado pra relaxar?

No caminho de volta passamos o filme da situação que acabávamos de viver e ligamos os pontos. O negrinho que lá em cima nos pediu um trago e fez ameaças falando em nome de policiais na verdade era comparsa dos policiais que nos apreenderam. Ele havia dado a exata discrição dos policiais que rondava a região e não parava de se mexer um só minuto. Parecia acenar para alguém de longe.
Uma quadrilha formada por policiais e bandidos. Tudo num mesmo saco.

4.9.06

Amor e paixão by Martha Medeiros


Vejam como são as coisas! Na semana passada escrevi um post neste mesmo blog falando sobre a relação amor x paixão e suas peculiaridades. Não é que a escritora Martha Medeiros (sempre ela), esta semana, em sua coluna no O Globo nos presenteou com um texto que dá um ponto final nas minhas dúvidas e na de quase todos os mortais? Vejam só um trecho do texto:

“...Tem se falado pouco de amor, virou uma coisa meio piegas, antiga. Hoje cultua-se muito mais a paixão e demais sentimentos vulcânicos, aqueles que fazem barulho e estrago, que inspiram loucuras, que causam polêmicas, que atormentam, que dilaceram, que fazem as pessoas se sentirem, ora, ora, vivas. O filósofo romeno Cioran disse que é melhor viver em frenesi do que na neutralidade, e tem razão, vigor é algo de que não podemos abrir mão.
A questão é que nada é mais vigoroso que o amor, este sentimento que erroneamente relacionamos com comodidade e mornidão, tudo porque associamos amor ao casamento: este sim pode vir a se tornar algo acomodado e morno. O amor pega esta carona injustamente.
Amor não é unicamente o que aproxima um homem uma mulher (ou dois homens e duas mulheres). Amor envolve pais e filhos, envolve amigos, envolve uma predisposição emocional para o trabalho, para o esporte, para a gastronomia, para a arte, para a religião, para a natureza, para o autoconhecimento. Amor é um estado de espírito que nos move constantemente, é uma energia que não se esgota, é a única coisa que faz a gente se levantar de manhã todos os dias sem entregar-se para o automatismo, é o que dá algum sentido para este hiato entre duas mortes. Isso não é vulcânico? Ô...”