Descartes tinha razão
Em seu “Discurso do Método”, René Descartes diz que “pode-se de fato conceber que uma máquina seja feita de tal forma que profira palavras e até que profira algumas a respeito de ações corporais que provocarão alguma mudança nos seus órgãos; de tal forma que, se for tocada em algum lugar, ela pergunte o que lhe querem dizer, se tocada noutro, ela grite que a estão a magoar e coisas semelhantes; mas não conseguirá organizá-la diversamente para corresponder ao sentido de tudo o quer dito na sua presença, como os homens mais embrutecidos podem fazer”.
Hoje tive um exemplo ótimo do pensamento de Descartes ao assistir dois filmes completamente opostos: Transamérica e Piratas do Caribe 2. até que ponto o dinheiro pode fazer um filme ser melhor que outro?
Primeiro assisti Transamérica, um filme americano independente que conta a história de um transexual que às vésperas de realizar a tão sonhada operação de mudança de sexo descobre que é pai de um adolescente problemático. O filme é um road movie delicioso. Te faz e rir e chorar quase que simultaneamente. Já assistimos muitos filmes que tratam da questão homossexual do ponto de vista de homens, mulheres e drag queens, mas poucos são os filmes que falam do transexual. Para ser honesto, não me recordo de nenhum no momento.
Transamérica consegue tocar nessa temática tão particular falando de uma forma universal. Quando soube do que tratava o filme imaginei que iria encontrar no cinema uma platéia formada por gays, travestis e afins. Que nada! Senhores torciam pela protagonista ao lado de suas companheiras e adolescentes se divertiam com seus grupos de amigos. Sessão lotada. Duas horas sem conseguir sequer piscar. Transamérica é um filmaço. Agora pasmem: sabe quanto custou a produção do filme? A bagatela de U$$ 1 milhão.
Em seguida enfrentei uma fila enorme no Cinemark para assistir Piratas do Caribe 2. O filme é uma febre no mundo inteiro. Já bateu todos os recordes possíveis até o momento. O custo de produção foi de US$ 225 milhões. Pois para mim esses números não surtiram efeito algum. Passei duas horas e meia entediado com uma seqüência de correria, tiros, espadas sem nenhum nexo. O roteiro é completamente furado, sem qualquer tipo de objetivo que não seja enganar o público até o último momento. E o que é pior, ao final do filme existe uma indicativa de que ainda virão Piratas 3, 4, 5...
Conclusão: Piratas do Caribe 2 é 225 vezes mais caro que Transamérica. No entanto, Transamérica é 225 vezes melhor que Piratas do Caribe. Graças à Deus nenhum efeito especial consegue vencer um roteiro bem escrito. O homem ainda é melhor que a máquina.
Nem lá nem cá.
Pra fechar a noite fui ao Paissandu assistir A pequena Jerusalém, um filme que conta a história de uma família judia que mora na França e passa por alguns conflitos. A esposa quer se livrar de algumas barreiras para satisfazer sexualmente seu marido, que a essa altura do campeonato está a traindo; a garota que quer estudar filosofia e passa a questionar sua religião e em seguida se apaixona por um mulçumano argelino. Vários elementos que poderiam render um excelente filme, mas que é mal realizado e deixa desejar. Uma pena.
1 Comentários:
Achei, seu bloog,, Fabio Amaral, por um desses acasos. Procurei sobre filmes que falassem de transexualismo, e como vc. disse no seu texto, é muito dificil, se encontrar um bom filme falando sobre. Então, ... ... eu sou uma transexual h/m, já resignada a quase dez anos, e mesmo hoje já com meus documentos, já resolvidos e tendo uma vida relativamente normal, vivo procurando por algo mais que possa me explicar o por que? de tudo. Ma obrigada por achar que o filme Transamérica, tem um história tem conteúdo. Pois é muito dificil encontrar filmes , livros, ou qualquer outra coisa que nos retrate , com dignidade, e fidelidade. Somos Seres humanos, acima de tudo. Com direitos e deveres, iguais a todos. Obrigada.
Juliana Marjorie - S.J.Rio Preto - SP.
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